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Economia comportamental.

  • Foto do escritor: Editor Fosterwelt
    Editor Fosterwelt
  • 8 de jun. de 2024
  • 4 min de leitura

Por Gabriel Magalhães.


Economia comportamental, neuroeconomia ou neuro ciência aplicada à economia, como queira chamar. Uma vertente que tem como pai Daniel Kahneman¹ que, basicamente, trouxe com dados o que muitos de nós economistas já sabíamos, mas talvez tenhamos ignorado por anos: os agentes econômicos não são racionais, o mercado não é racional, investidores muitas vezes aplicam em empresas que não apresentam lucro, mas seu meio pode influenciar na decisão, por uma aceitação do grupo, por exemplo: “todos do trabalho estão investindo na empresa ABCD Ltda, então também vou”. Falando dessa forma, pode parecer simples e óbvio, mas não é. Pense a respeito de toda a base da economia clássica, das identidades econômicas, como a “a oferta cria sua própria demanda”, e em todas as crises financeiras que ocorreram no mundo, quando se acreditava que o mercado era totalmente racional.

Se traçarmos um paralelo entre a crise 1929 e a de 2008 (Crash da bolsa de Nova York 1929 e crise imobiliário do Sub-prime 2008), podemos ver similaridades em relação a uma coisa: o otimismo dos agentes, a sua euforia, a ilusão de crer que os ativos iriam sempre subir ou que não havia risco dentro de um mercado que se transforma constantemente e que até mesmo fazer uma operação de hedge (proteção) seria visto como um pessimismo porque seria uma aposta contra o mercado, quando na verdade os investidores estavam apenas comprando um seguro para sua carteira de ativos. Em 1929 toda a população passou a comprar ativos, a bolsa subia de forma descontrolada, uma ilusão de crescimento infinito, até que veio a queda em 24 de outubro daquele ano (a quinta-feira negra), já em 2008 hipotecas tinha sua classificação de risco superestimada, ativos que seriam classificados como (AAA), na verdade se tratavam de papeis de alto risco, aonde muitas vezes uma casa estava alugada, sem ter sua hipoteca paga. Esses gatilhos mentais, ou marcadores somáticos, podem em um efeito manada definir a direção de uma ação, de um índice e até mesmo em nossas decisões do dia a dia e é aqui que entendemos que isso não se limita somente ao mercado financeiro, quando falamos de economia comportamental. Por exemplo, já percebeu que tende a beber mais café quando está perto de pessoas que possuem este hábito? As vezes você nem gosta tanto, mas sem perceber aumenta seu gasto com café e dependendo do caso, desenvolve uma resistência a cafeína que pode trazer outras consequências a sua vida.

A questão do ambiente e ciclo econômico que nos encontramos vai ditar muito a respeito de nossas decisões e preceitos. Imagine na revolução industrial alguém dizer que crianças não podiam trabalhar em fábricas ou que deveria se reduzir a carga horaria diária de trabalho para 8 horas!

Isso já aconteceu e muitos empresários foram contra, dizendo que não era viável, que iria acabar com a economia. Hoje sabemos que isso não passou de uma falácia e uma resistência à mudança, talvez até uma aversão à perda². Por mais obvio que isso pareça, estamos hoje passando por um momento similar na economia, especialmente no setor de energia. A pauta tem ganhado escala e está cada vez mais em nosso dia a dia. Mas, imagine há 10 anos dizer que teríamos essa quantidade de carros elétricos, sendo que ainda hoje muitas pessoas falam com deboche e afirmam que isso vai passar? Ou das fontes de energia alternativa, como eólica e solar. Se você foi uma criança nos anos 2000, deve ter tido essa pauta em sua escola, talvez tenha visto o quão genial seria e até chegar em casa com empolgação contando para seus pais a respeito, ou talvez os seus filhos tenham feito isso e você mesmo em sua mente pensou: “como são ingênuas e inocentes essas crianças”, bem o tempo passou, a tecnologia evoluiu e hoje a pauta de ESG veio com muita força e é uma realidade, apesar das ainda inúmeras resistências. E é totalmente compreensível, faz parte dos ciclos econômicos, das mudanças no padrão de consumo, é como uma sociedade evolui. E sim, existem muitos fatores envolvidos, como ser economicamente viável e brigar com os monopólios e oligopólios do setor, mas isso já é assunto para outro artigo. Mas, se a gente considerar somente a relação da matriz energética no Brasil, tivemos uma

evolução de 39,5% em 2014 para 46,1% em 2019, segundo dados da EPE³.

A provocação que deixo aqui é: antes de julgar uma nova tendência, tecnologia ou hábito, olhe para trás e veja a evolução da nossa sociedade, sempre na base de tentativa e erro, o ambiente mudando constantemente e nos influenciando. Quantas moedas e planos econômicos o Brasil teve antes do Plano Real? Como isso influenciou nosso comportamento? Veja que na pandemia, muitas pessoas com a lembrança da hiperinflação brasileira, passaram a estocar comida, não só para ir menos ao mercado, mas com medo de desabastecimento.

Talvez com uma percepção mais reflexiva, algumas coisas teriam evoluído mais rápido na sociedade, certos desastres naturais teriam sido evitados, crises humanitárias, crises econômicas e por aí vai.

Quer outro exemplo forte? A pauta ESG! Quantas pessoas teriam se beneficiado se o assunto fosse levado a sério há 20 anos?

Mas Gabriel, por onde começar? Bem, se deseja saber mais a respeito de economia comportamental, sugiro pesquisar a respeito do trabalho do Daniel Kahneman e seu livro: Rápido e devagar. Para ESG, existe muito conteúdo nas redes, mas pode iniciar em no portal da EPE³ e portais de organizações como o Greenpeace. E claro, no seu dia-a-dia, tente começar pelo básico, reveja seus hábitos e se não está por ventura agindo no piloto automático, se poderia começar a separar os dejetos orgânicos do reciclável, se existe coleta na sua região. Se todos tiverem uma mente aberta e fizer sua parte, podemos contribuir e muito para nossa sociedade.

¹Daniel Kahneman, neurocientista. Ganhador do Nobel de economia em 2002.

²Aversão a perda: Se trata de uma das heurísticas da economia comportamental, por exemplo não vender uma ação perdedora e se desfazer rapidamente de ações com pequenos ganhos.

³Empresa de pesquisa energética. https://www.epe.gov.br/pt

 
 
 

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